segunda-feira, 18 de maio de 2015

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muito álcool. 
quando muda-se de idade, geralmente, é bom beber. e quando é um dia comum, também. e depois você passa dois ou três dias com o cérebro meio travado, suando com cheiro de cerveja e tudo volta ao normal na quarta, quando você abre um litro de cerveja barata pra ver um jogo qualquer no bar de frente ao seu antigo campus universitário. 
é verdade que todos os festejos, todos os desejos alheios de felicidade e vida longa, preenchem algo que precisa ser preenchido mas é também verdade que não é só isso. a presença dos que você mais considera em um ambiente, corroborando de toda aquela vontade explícita de se embriagar e ter uma noite agradável em nome do dia que você veio ao mundo é de fato algo até mais valoroso que o livro do Robert Crumb, livro este que já veio com um título que hoje soa quase como uma anunciação pro que viria a acontecer na noite festiva: Meus problemas com as mulheres. 
obrigado por avisar, Natan!

segunda-feira, 4 de maio de 2015

e lá vai você dobrando a esquina, dois cachorros, sem fumaça e sem seus óculos redondos. e lá vou eu, mais uma vez, rumo ao meu novo destino que se fez por si, sem nenhum momento de ilusão nisso, sem nada além do que de fato apresenta-se, e isto talvez seja o que de mais sagrado existe na vida: o que existiu, existiu. e não há nada que faça deixar de ser passado, nem mesmo o futuro, tampouco o presente. não há como apagar, nem como esquecer, existiu e quando parar na esquina da Alameda com a R-9, ali naquele poste pintado até a metade de verde com uma listra em vermelho, olhar adiante e for até a beirada da calçada, atrás do banco haverá um monte de pedras que o tempo e as chuvas já bagunçaram, mas você sabe o que há ali.
é como se fossem formas de gelo enroladas em papel toalha sendo esfregadas na nuca, não há como segurar. é um despertar pro que de fato dói quando alguém me conta algo novo sobre sua sensacional rotina antiga que se refez, e eu sempre desconverso. já não faço questão alguma de dizer que já fui casado, nem disfarço a emoção quando em meio a festas tocam músicas com as quais dançamos juntos, do nosso ex-jeito torto e faço questão de dar risada quando lembro da sua mixagem vocal em ''mas, mas, mas é claro que sol'', por saber que estas lembranças provavelmente se perderão com o tempo, assim como toda a grande maioria das memórias que gostaria de guardar e já se foram.
e quando você esperava por um fim, por um meio de chegar ao completo estado de paz, aqui estamos: um de cada lado. mesmo com mensagens espíritas que chegaram na minha caixa de entrada, escritas por algum estranho que se acha especialista em você e que insiste em contar coisas mesmo sem ter sido perguntado.
quando me perguntam se isso afeta, digo que não há nada que me faça não terminar o que um dia comecei, apesar de ter capengado, caído, levantado, caído outras vezes e me reerguido como um arranha-céu, a certeza que os ralados nos joelhos e a cicatriz na testa nunca me deixarão esquecer que é preciso sangrar, é preciso ver o corte se fechar sem pontos, aos poucos. e quanto ao erro, gostaria de dizer, ele agora é meu amigo. caminhamos lado a lado, como numa corrida insólita contra o que de mais agudo e relevante existe, a construção de uma realidade com dores, suor e algum prazer ao fim da rotina de trabalho.