segunda-feira, 23 de novembro de 2015

a vontade de sondar o espaço, Jorge?



em doze frases distruiu planos para as noites chuvosas
o encanto da divisão de um palheiro ao som da vitrola 
e a parte mais gloriosa de um sábado
e sobre este sábado preciso alongar-me
assim como fiz no longo e estranho ato sexual
não se valha da boa foda alheia em nome do simples conhecimento
isso gera um desgosto danado
um mal querer por ter apresentado boa parte daquilo que considera bom e ainda sim ser mais uma vez insuficiente
soa adolescente, não soa?
acreditando ou não
pra quem leva tudo intensamente qualquer instante é mais que suficiente
distorce dor, acalma o foco e deixa tudo mais emocionante

e hoje o tábua de esmeralda não concorreu com você sussurrando as letras

sábado, 14 de novembro de 2015


só o tempo pra desanuviar
aquela lágrima presa da qual você não tem culpa
impossível construir algo sobre um terreno instável e arenoso
depuração é coisa comum, quero ver é dragar e reconstruir alicerces bem fortes
para depois reerguer-se como um arranha-céu
e talvez pareça hipócrita demais falar de sentimentos com analogias de construção
mas não há nada pior que sentir-se ruindo
colunas caindo 
e você como um kamikaze guerreiro
atirando-se com seu pássaro de prata
rumo ao que de mais sagrado existe:
o cumprimento da própria sentença. 

terça-feira, 9 de junho de 2015

tentei coisas
falei coisas
mostrei virtualmente as melhores coisas
e acho mesmo que eram as melhores coisas
apesar de saber que nem sempre este ponto de vista é o melhor
esse lance de haver um melhor, você entende? 
nem sempre há um melhor amigo
e era tudo uma introdução ao som de Chet Faker pra dizer que a vida hoje é mais que momentos
e talvez quando a idéia passar a contemplar a possibilidade cíclica que mora no recomeço e no pleno estado de leveza que mora em simplesmente estar consigo
suas idéias e metas e planos e coisas que independem de qualquer coisa que respire
talvez neste ponto você entenda que existem defeitos maiores no ser que permanecer sozinho
sozinho é uma bela palavra pra dizer que há mais de um ano não levo alguém pros almoços de domingo em casa
e talvez isto seja tudo que você precisa saber
vaginas inocentes de dezoito anos não me pegam mais
dezenove tampouco
o vinho italiano talvez me faça dizer além do que você precisa saber
mas sabe o que é vida?
não sou eu quem vai te dizer.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

26

muito álcool. 
quando muda-se de idade, geralmente, é bom beber. e quando é um dia comum, também. e depois você passa dois ou três dias com o cérebro meio travado, suando com cheiro de cerveja e tudo volta ao normal na quarta, quando você abre um litro de cerveja barata pra ver um jogo qualquer no bar de frente ao seu antigo campus universitário. 
é verdade que todos os festejos, todos os desejos alheios de felicidade e vida longa, preenchem algo que precisa ser preenchido mas é também verdade que não é só isso. a presença dos que você mais considera em um ambiente, corroborando de toda aquela vontade explícita de se embriagar e ter uma noite agradável em nome do dia que você veio ao mundo é de fato algo até mais valoroso que o livro do Robert Crumb, livro este que já veio com um título que hoje soa quase como uma anunciação pro que viria a acontecer na noite festiva: Meus problemas com as mulheres. 
obrigado por avisar, Natan!

segunda-feira, 4 de maio de 2015

e lá vai você dobrando a esquina, dois cachorros, sem fumaça e sem seus óculos redondos. e lá vou eu, mais uma vez, rumo ao meu novo destino que se fez por si, sem nenhum momento de ilusão nisso, sem nada além do que de fato apresenta-se, e isto talvez seja o que de mais sagrado existe na vida: o que existiu, existiu. e não há nada que faça deixar de ser passado, nem mesmo o futuro, tampouco o presente. não há como apagar, nem como esquecer, existiu e quando parar na esquina da Alameda com a R-9, ali naquele poste pintado até a metade de verde com uma listra em vermelho, olhar adiante e for até a beirada da calçada, atrás do banco haverá um monte de pedras que o tempo e as chuvas já bagunçaram, mas você sabe o que há ali.
é como se fossem formas de gelo enroladas em papel toalha sendo esfregadas na nuca, não há como segurar. é um despertar pro que de fato dói quando alguém me conta algo novo sobre sua sensacional rotina antiga que se refez, e eu sempre desconverso. já não faço questão alguma de dizer que já fui casado, nem disfarço a emoção quando em meio a festas tocam músicas com as quais dançamos juntos, do nosso ex-jeito torto e faço questão de dar risada quando lembro da sua mixagem vocal em ''mas, mas, mas é claro que sol'', por saber que estas lembranças provavelmente se perderão com o tempo, assim como toda a grande maioria das memórias que gostaria de guardar e já se foram.
e quando você esperava por um fim, por um meio de chegar ao completo estado de paz, aqui estamos: um de cada lado. mesmo com mensagens espíritas que chegaram na minha caixa de entrada, escritas por algum estranho que se acha especialista em você e que insiste em contar coisas mesmo sem ter sido perguntado.
quando me perguntam se isso afeta, digo que não há nada que me faça não terminar o que um dia comecei, apesar de ter capengado, caído, levantado, caído outras vezes e me reerguido como um arranha-céu, a certeza que os ralados nos joelhos e a cicatriz na testa nunca me deixarão esquecer que é preciso sangrar, é preciso ver o corte se fechar sem pontos, aos poucos. e quanto ao erro, gostaria de dizer, ele agora é meu amigo. caminhamos lado a lado, como numa corrida insólita contra o que de mais agudo e relevante existe, a construção de uma realidade com dores, suor e algum prazer ao fim da rotina de trabalho.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

dizer-se foda nunca foi tão necessário. nem tão complicado.
reerguer-se diante da falência de algumas entranhas, reavaliar as provisões e seguir, mesmo que diante da mais severa das agonias mentais, é algo do qual pretendo vangloriar-me em breve. reconstruir certezas é melhor parte, ver o que há além e não ligar pro instinto interno que diagnostica a inaptidão desde sempre.
as noites passaram a ser mais longas, tornando-se um aglomerado de lembranças que explodiam sem aviso prévio. apenas acontecia, e lá mesmo era sentenciado o único fim possível para a agonia: ou voar do viaduto, ou estourar a mente perturbada com uma bala que entraria pela boca. mas não, não tinha uma arma, nem tinha coragem de ser tão idiota. enforcar-me, após ter visto in loco alguém que acabara de fazer o mesmo, passou a ser tão idiota quanto tomar veneno para rato. e no fim, percebe-se que nenhuma hipótese é realmente viável: é simplista demais apenas sair. o sol acaba renascendo,
viajar por lugares que façam sua mente desprender-se disso é quase tão valioso quanto respirar, e esse talvez tenha sido o motivo pelo qual resolvi deixar de lado por um tempo toda a problemática que envolve família e dinheiro. o amor pela vida renasce, e só são precisos alguns instantes junto com quem vive de verdade para perceber o quão pequeno e vil pode ser o desejo de ter alguém por perto pelo simples fato de sua necessidade ser essa. necessidade?
andar e reconhecer, e ampliar, e ter momentos dos quais sua mente se recordará antes que os dantes vividos, aglomerar momentos assim, fazer coleção de pessoas, de amigos viajantes, de situações das quais seu orgulho por estar vivo, mesmo depois de ter saído do inferno sem mapa.
é importante admitir o erro, o pecado, a falha, a porra qualquer que seja! tomo a totalidade da culpa, e por alguma razão ainda desconhecida é preciso dizer que a infinidade de escolhas erradas que tomei fizeram nascer a certeza que o erro é eterno, o erro, o vacilo em ter jogado minhas próprias fezes no que tinha de mais valioso... talvez por traumas de infância, talvez por indecência mesmo, talvez por achar que minha vulnerabilidade em cair em situações ruins nunca existiu, e que se acontecesse, ah! se acontecesse eu saberia resolver com um abraço.
"não é pra ser entendido por qualquer um", talvez quem passou mais perto de me compreender tenha desistido quando percebeu que estava sendo feita de idiota. caso esta fosse uma busca pessoal, certamente já teria desistido. nunca senti a necessidade de ser desvendado, ou entendido. talvez por não entender a maioria das ações humanas é que não consigo desvendar nem o mistério que mora em sonhar e acordar pensando em algo que foi vivido há dez anos, outros sonhos se passaram há mais tempo, talvez doze ou quinze anos, e mesmo assim ressurgem vivos e pulsantes, enchendo de cores berrantes o momento em que abro a janela. minha fotofobia contribui, mas não é só ela.
com um belo emprego e uma sala que ostenta uma placa em acrílico com meu nome escrito em azul em uma grande mineradora, eis que todos os momentos de sacrifício, e os outros tantos nos quais ter dinheiro era uma necessidade real fizeram consolidar ainda mais a certeza de que há um futuro. é fruto de um passado com graves erros e alguns acertos. só de haver um futuro, com possibilidades infinitas e mais tantos outros possíveis erros a serem cometidos já me sinto bem melhor.
idiotice seria achar que os erros sumirão com o surgimento dos primeiros fios de cabelos brancos. errar no mesmo, talvez não. mas errar, no mais amplo sentido, é o que faz o passo seguinte acontecer. e é só esse meu real propósito nessa coisa toda, dar passos curtos, errar, morrer e conseguir rebrotar.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

corredores não se drogam!

vontade incontrolável de dizer mais que simples linhas, de não ter limite específico de tempo e me estender e alongar as palavras, fazendo pausas para respirar calmamente, sem arrobos e deixando os comentários e falas do outro se alongarem, ouvir e falar, falando nos momentos de silêncio e sentindo os momentos certos de se ouvir, somente ouvir. e os de falar, mas não somente de falar.
aquela sensação que te dá quando você entra em um metrô meio vazio, com os fones atolados no ouvido com a banda de música instrumental que você mais ouve tocando a música que você mais gosta, já viveu isso?
tem também aquela sensação que dá quando se está lá pela terceira volta no lago das rosas, correndo num trote leve e suave, e se passa bem pela lateral do lago, deixando a umidade encher seus pulmões. é viciante demais.
queria juntar as duas, sufocar o mais rápido possível as agonias. é pena que eu não possa, mas queria começar a correr dentro de um metrô, escutando hurtmold e respirando a umidade do lago.